"O barulho é a tortura do homem de pensamento" (Schopenhauer)

quarta-feira, 26 de maio de 2010

som VS ruído

O som pode ser definido como um fenómeno físico que consiste numa perturbação de um meio material elástico, provocando uma sensação auditiva. É a variação da pressão atmosférica que ocorre dentro dos limites de amplitude e banda de frequência aos quais o ouvido humano responde (Gerges, 1992). Para que o som se propague é necessário a existência de um meio elástico que possa entrar em vibração – líquido, sólido ou gasoso (o ar) –, a uma velocidade uniforme, constante, independentemente da amplitude das amplitudes das vibrações, da sua frequência e da sua forma (Moutinho, 2000).


O ruído é um sinal acústico aperiódico, originado da sobreposição de vários movimentos de vibração, com diferentes frequências que não apresentam relação entre si. Para além de um determinado nível, torna-se incómodo, sendo um obstáculo à compreensão de fala e, consequentemente, à comunicação. Contribui, também para o aumento da fadiga, podendo causar alteração ao nível do Sistema Nervoso e mesmo traumatismos auditivos. Quando o ruído é intenso e a exposição a ele é continuada a mais de 85dB durante oito horas por dia, ocorrem alterações estruturais na ouvido interno, que determinam a ocorrência da PAIR.

O ruído faz parte das rotinas do no
sso dia-a-dia.
Desde a concepção do ser humano que este está sujeito a ser exposto a níveis elevados de ruído, como por exemplo, durante o período de gestação, caso a progenitora trabalhe num posto de trabalho com ruído constante superior a 85 dB, ou, ainda, caso o bebé nasça prematuramente e tenha necessidade de ser incubado, ficando sujeito a níveis de pressão sonora que podem atingir até 130 ou 140dB.

Durante a infância, é comum a criança estar rodeada de brinquedos e electrodomésticos que constituem fontes de ruído, podendo atingir os 100dB. Segundo alguns autores, a entrada na escola, onde a criança permanece em média quatro horas por dia, dita a exposição a uma média de 70dB, podendo atingir até 94,3dB.

Na adolescência, é normal ganhar determinados hábitos de lazer que envolvem, geralmente, uma elevada quantia de ruído, tais como, frequentar bares nocturnos ou discotecas, assistir a concertos, andar de motociclo ou ciclomotor, utilizar leitores de música com auscultadores, entre outros.

Numa fase adulta, a entrada no mercado de trabalho, pode significar passar uma média de 8 horas por dia exposto a ambientes de trabalho com níveis de pressão sonora muitas vezes excessivos, isto é, com mais de 85 dB.

Estes comportamentos tornam-se especialmente perigosos quando se trata de ruídos intensos em exposição prolongada, e quando combinados com outros factores de risco que potenciam os efeitos negativos do ruído sobre a audição, como produtos químicos, vibração, variações de temperatura e o uso de alguns mediacamentos.

Este estilo de vida urbano, nem sempre opcional, leva à incorporação do ruído no quotidiano como se fosse algo natural e, portanto, inofensivo. No entanto, a exposição a ruído intensa e/ou prolongadamente provoca uma diminuição da acuidade auditiva, podendo esta retornar à normalidade, após um período de afastamento do ruído. Por outro lado, em caso de exposição ao ruído de forma súbita e muito intensa, pode ocorrer trauma acústico, lesando, temporária ou definitivamente, diversas estruturas do ouvido.

Actualmente, o ruído é considerado a terceira maior causa de poluição ambiental, ficando quantitativamente abaixo da poluição da água e do ar. Em 1992, no rio de Janeiro, na Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento foram apresentados estudos que indicam que cerca de 110 milhões de pessoas estão expostas a ruído de níveis que provocam doenças no ser humano. A perda auditiva, por sua vez, afecta mais de 16% da população mundial.

Bibliografia:

  • Celani, A. C. (1991). Brinquedos e seus níveis de ruído. Revista Distúrbios Comunicação, v. 4, n. 1, p. 49-58;
  • Feldman, A. S. & Grimes, C. T. (1985) Hearing conservation in industry. Baltimore: The Williams & Wilkins
  • França, D. (2000). O ruído presente nas salas de aula em Curitiba: um assunto a ser refletido pelos fonoaudiólogos. Revista da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia, v. 4, n. 6, p. 65-67;Hartikainen, A. L. et al. (1994). Effect of occupational noise on the course and outcome of pregnancy. Scand J Work Environ Health, v. 20, n. 6, p. 444-450;
  • Hear the world (2010). Towards better hearing, acedido em http://www.hear-the-world.com/fileadmin/media/pdf/en/GB_Hearing_Guide.pdf, a 5 de Maio de 2010;
  • Lacerda, A.; Magna, C.; Morata, T.; Marques, J. & Zannin, P. (2005). Ambiente Urbano e Percepção da Poluição Sonora. Revista Ambiente & Sociedade. V. 8, n.2, p.85-98;
  • Ministério da Saúde (2006). Perda Auditiva Induzida por Ruído (Pair). Brasília: Editora MS;
  • Nurminen, T. (1995). Female noise exposure, shift work and reproduction. Journal of Occupational and Environmental Medicine, v. 37, n. 8, p. 945-950;
  • Organização Mundial de Saúde (1993). Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento do CID-10: Descrições clínicas e directrizes diagnósticas. Porto Alegre: Artes Médicas;
  • Silva, L. F. (2002). Estudo sobre a exposição combinada entre ruído e vibração de corpo inteiro e os efeitos na audição de trabalhadores. São Paulo: Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo.
Pintura de Edvard Munch, intitulada "O grito"

1 comentário:

  1. Nas origens o homem convivia apenas com os ruídos naturais; na actualidade todos os dias somos bombardeados com os mais diversos ruídos, como aqueles provenientes da circulação automóvel, utilização de ferramentas pneumáticas...pelo que é fundamental conhecer os seus efeitos e como preveni-los.

    Considero que o vosso blog é uma iniciativa muito interessante, tendo particular interesse para mim no âmbito da higiene e segurança no trabalho.

    Espero que consigam informar, esclarecer e sensibilizar a população sobre esta temática!

    A mim já me conseguiram alertar, pois eu não sabia que o ruído era considerado a terceira maior causa de poluição ambiental!

    Continuem com o bom trabalho

    Mariana

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