"O barulho é a tortura do homem de pensamento" (Schopenhauer)

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Napo e o ruído no ambiente de trabalho

Dá Deus ouvidos a quem é indiferente!

Perda Auditiva Induzida por Ruído


A exposição por tempo prolongado a ruído, isto é, a níveis de pressão sonora elevados, pode levar ao aparecimento de PAIR.
A PAIR trata-se de
uma alteração permanente dos limiares auditivos, e distingue-se das alterações auditivas temporárias e do traumatismo auditivo. Configura-se como uma perda auditiva do tipo neurossensorial, pelo facto de a alteração ocorrer ao nível da ouvido interno, por hav
er afecção do órgão de Corti e por refletir a morte lenta e gradual das células ciliares do órgão auditivo. Efectivamente, a maior característica da PAIR é a degeneração das células ciliadas do órgão de Corti, tendo sido, recentemente, demonstrado a ocorrência de lesões e de apoptose celular em decorrência da oxidação provocada pela presença de radicais livres formados pelo excesso de estimulação sonora.

É geralmente bilateral, pois é comum que ambos os ouvidos sejam igualmente expostos ao excesso de ruído. É de carácter progressivo e irreversível, o que quer dizer que agrava com o aumento do tempo de exposição ao ruído. Após a instalação da PAIR, a pessoa lesada não apresenta melhoria após o afastamento temporário e não existe tratamento eficaz, o que enfatiza a importância da prevenção.

A instalação da perda auditiva é lenta e progressiva, passando despercebida por muito tempo, o que faz com que o indivíduo só se dê conta do problema quando as lesões já estão avançadas. As dificuldades na percepção de sons e o zumbido são dos sintomas mais comummente relatados por portadores de PAIR. Pode, ainda, manifestar-se por alteração da selectividade de frequência, que provoca dificuldades em termos de discriminação auditiva.


Bibliografia:
  • Bamford, J.; Saunders, E. (1991). Hearing impairment, auditory, perception and language disability. 2nd ed. San Diego: California: Singular Publishing Group.
  • Centro de Referência em Saúde do Trabalhador do Estado do Rio de Janeiro e Centro de Estudos em Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana / Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca / Fundação Oswaldo Cruz (2010). Fonoaudiologia na saúde do trabalhador. n1;
  • Ministério da Saúde (2006). Perda Auditiva Induzida por Ruído (Pair). Brasília: Editora MS;
  • Organização Mundial de Saúde (1993). Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento do CID-10. Descrições clínicas e directrizes diagnósticas. Porto Alegre: Artes Médicas.
  • Samelli, A. G. (2004). Zumbido: avaliação, diagnóstico e reabilitação: abordagens atuais. São Paulo: Lovise
  • imagem acedida em http://www.warrington.gov.uk/images/noise2_tcm15-23652.gif


som VS ruído

O som pode ser definido como um fenómeno físico que consiste numa perturbação de um meio material elástico, provocando uma sensação auditiva. É a variação da pressão atmosférica que ocorre dentro dos limites de amplitude e banda de frequência aos quais o ouvido humano responde (Gerges, 1992). Para que o som se propague é necessário a existência de um meio elástico que possa entrar em vibração – líquido, sólido ou gasoso (o ar) –, a uma velocidade uniforme, constante, independentemente da amplitude das amplitudes das vibrações, da sua frequência e da sua forma (Moutinho, 2000).


O ruído é um sinal acústico aperiódico, originado da sobreposição de vários movimentos de vibração, com diferentes frequências que não apresentam relação entre si. Para além de um determinado nível, torna-se incómodo, sendo um obstáculo à compreensão de fala e, consequentemente, à comunicação. Contribui, também para o aumento da fadiga, podendo causar alteração ao nível do Sistema Nervoso e mesmo traumatismos auditivos. Quando o ruído é intenso e a exposição a ele é continuada a mais de 85dB durante oito horas por dia, ocorrem alterações estruturais na ouvido interno, que determinam a ocorrência da PAIR.

O ruído faz parte das rotinas do no
sso dia-a-dia.
Desde a concepção do ser humano que este está sujeito a ser exposto a níveis elevados de ruído, como por exemplo, durante o período de gestação, caso a progenitora trabalhe num posto de trabalho com ruído constante superior a 85 dB, ou, ainda, caso o bebé nasça prematuramente e tenha necessidade de ser incubado, ficando sujeito a níveis de pressão sonora que podem atingir até 130 ou 140dB.

Durante a infância, é comum a criança estar rodeada de brinquedos e electrodomésticos que constituem fontes de ruído, podendo atingir os 100dB. Segundo alguns autores, a entrada na escola, onde a criança permanece em média quatro horas por dia, dita a exposição a uma média de 70dB, podendo atingir até 94,3dB.

Na adolescência, é normal ganhar determinados hábitos de lazer que envolvem, geralmente, uma elevada quantia de ruído, tais como, frequentar bares nocturnos ou discotecas, assistir a concertos, andar de motociclo ou ciclomotor, utilizar leitores de música com auscultadores, entre outros.

Numa fase adulta, a entrada no mercado de trabalho, pode significar passar uma média de 8 horas por dia exposto a ambientes de trabalho com níveis de pressão sonora muitas vezes excessivos, isto é, com mais de 85 dB.

Estes comportamentos tornam-se especialmente perigosos quando se trata de ruídos intensos em exposição prolongada, e quando combinados com outros factores de risco que potenciam os efeitos negativos do ruído sobre a audição, como produtos químicos, vibração, variações de temperatura e o uso de alguns mediacamentos.

Este estilo de vida urbano, nem sempre opcional, leva à incorporação do ruído no quotidiano como se fosse algo natural e, portanto, inofensivo. No entanto, a exposição a ruído intensa e/ou prolongadamente provoca uma diminuição da acuidade auditiva, podendo esta retornar à normalidade, após um período de afastamento do ruído. Por outro lado, em caso de exposição ao ruído de forma súbita e muito intensa, pode ocorrer trauma acústico, lesando, temporária ou definitivamente, diversas estruturas do ouvido.

Actualmente, o ruído é considerado a terceira maior causa de poluição ambiental, ficando quantitativamente abaixo da poluição da água e do ar. Em 1992, no rio de Janeiro, na Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento foram apresentados estudos que indicam que cerca de 110 milhões de pessoas estão expostas a ruído de níveis que provocam doenças no ser humano. A perda auditiva, por sua vez, afecta mais de 16% da população mundial.

Bibliografia:

  • Celani, A. C. (1991). Brinquedos e seus níveis de ruído. Revista Distúrbios Comunicação, v. 4, n. 1, p. 49-58;
  • Feldman, A. S. & Grimes, C. T. (1985) Hearing conservation in industry. Baltimore: The Williams & Wilkins
  • França, D. (2000). O ruído presente nas salas de aula em Curitiba: um assunto a ser refletido pelos fonoaudiólogos. Revista da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia, v. 4, n. 6, p. 65-67;Hartikainen, A. L. et al. (1994). Effect of occupational noise on the course and outcome of pregnancy. Scand J Work Environ Health, v. 20, n. 6, p. 444-450;
  • Hear the world (2010). Towards better hearing, acedido em http://www.hear-the-world.com/fileadmin/media/pdf/en/GB_Hearing_Guide.pdf, a 5 de Maio de 2010;
  • Lacerda, A.; Magna, C.; Morata, T.; Marques, J. & Zannin, P. (2005). Ambiente Urbano e Percepção da Poluição Sonora. Revista Ambiente & Sociedade. V. 8, n.2, p.85-98;
  • Ministério da Saúde (2006). Perda Auditiva Induzida por Ruído (Pair). Brasília: Editora MS;
  • Nurminen, T. (1995). Female noise exposure, shift work and reproduction. Journal of Occupational and Environmental Medicine, v. 37, n. 8, p. 945-950;
  • Organização Mundial de Saúde (1993). Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento do CID-10: Descrições clínicas e directrizes diagnósticas. Porto Alegre: Artes Médicas;
  • Silva, L. F. (2002). Estudo sobre a exposição combinada entre ruído e vibração de corpo inteiro e os efeitos na audição de trabalhadores. São Paulo: Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo.
Pintura de Edvard Munch, intitulada "O grito"

terça-feira, 25 de maio de 2010

Bem-vindos

Este blog foi iniciado por 3 alunos da Escola Superior das Tecnologias da Saúde do Porto, que na altura frequentavam o 3º ano do curso de Terapia da Fala. 
No âmbito de uma unidade curricular frequentada, designada Prevenção em Terapia da Fala, foi proposta a realização de um projecto tendo como objectivo o planeamento de uma acção de prevenção referente a uma área de Terapia da Fala.

Após pesquisa e discussão, optou-se por realizar uma campanha de prevenção primária e secundária relativa às Perdas Auditivas Provocadas por Ruído (PAIR), sendo pretendido sensibilizar a população para aspectos relacionados com a PAIR, nomeadamente, alertar para os riscos decorrentes de exposição a excesso de ruído e possibilidade de prevenir precocemente a instalação da referida perturbação.

A criação deste blog foi, portanto, parte integrante da campanha descrita.


Carolina Santos, David Almeida, Olga Marisa


A dedicação depositada após o final da unidade curricular e após o término do curso prende-se com o facto de ter ficado realmente motivada com a causa e pretender utilizar este espaço para expor e divulgar informação relacionada com o tema! 
Espero que seja útil para todos os interessados! 

Carolina Santos