"O barulho é a tortura do homem de pensamento" (Schopenhauer)

sábado, 16 de abril de 2011

A saúde vocal dos professores

Hoje, 16 de Abril, comemora-se o dia mundial da Voz. A voz pode ser definida como o som produzido pela vibração das pregas vocais (também conhecidas como cordas vocais), na laringe, pelo ar vindo dos pulmões.

As alterações/distúrbios da voz podem estar relacionadas à inadequada competição sonora nos contextos ambientais nos quais as pessoas se inserem, decorrente dos elevados níveis de ruído. Têm sido desenvolvidas pesquisas que reconhecem e avaliam o ruído nos diferentes locais de trabalho, relacionando-o aos distúrbios vocais, bem como seus possíveis efeitos na saúde do trabalhador e produtividade do mesmo.

A actividade profissional revela-se um factor de risco para o surgimento de lesões que acometem as estruturas corporais. Essas lesões podem afectar a realização plena das actividades profissionais, gerando, por vezes, incapacidades temporárias ou permanentes, podendo, nos casos mais graves, levar ao afastamento definitivo das actividades profissionais.

Os profissionais da voz, isto é, indivíduos que têm como instrumento de trabalho a voz, da qual dependem para exercer a sua profissão (entre os quais: Cantores, Actores, Professores, Pastores e Padres, Advogados, Juízes, Promotores, Repórteres, Operadores de telemarketing, Políticos, etc.) constituem profissionais de risco relativamente à saúde vocal. Ora se estes profissionais laborarem em ambientes ruidosos, maiores serão as probabilidades de ocorrerem danos relacionados com problemas vocais, em virtude da necessidade de concorrência da voz com os ruídos do contexto.

Gonçalves, Silva & Coutinho (2009) desenvolveram um estudo que correlaciona o ruído com a ocorrência de problemas vocais em professores, o qual considerei pertinente divulgar no âmbito do Dia Mundial da Voz. Os autores apontam que os professores estão entre os dez profissionais que mais procuram ajuda médica devido a problemas vocais.

A intervenção em Terapia da Fala torna-se uma ajuda importante importante, mas não constitui uma solução, pois o professor, depois de afastado e recuperado, volta às mesmas condições de ambiente de trabalho ruidosas que exigem o esforço acrescido que está na causa do problema.

A inteligibilidade de fala é definida como a relação entre palavras faladas e palavras entendidas expressa em porcentagem. Para que a comunicação seja efectiva e inteligível, a inteligibilidade da fala deve ser superior a 90% (Nepomuceno, 1994 cit in Gonçalves, Silva & Coutinho, 2009). Para palavras fáceis, a inteligibilidade de 100% das mesmas exige uma intensidade de voz de 10 dB(A) acima do ruído de fundo.

O ruído acima de 60 dB(A) exige ao professor a elevação do nível de intensidade de sua voz para que os alunos o ouçam e compreendam. Naturalmente que este nível elevado causará fadiga, além de levar à utilização esforçada e excessiva das pregas vocais de quem fala, potenciando o desenvolvimento de patologias como nódulos vocais, que irão interferir directamente no seu nível de desempenho. Com o passar dos anos, o professor começa a percepcionar sinais deste abuso vocal, entre os quais rouquidão e dores ao nível da laringe, além de outros problemas indirectos tais como efeitos psicológicos pela incapacidade de exercer a função de maneira adequada e efeitos colaterais diversos como dores de cabeça.Por outro lado, a concorrência de estímulos sonoros compromete as condições de concentração para actividades mentais e psicológicas dos alunos que o escutam (Pimentel-Souza, 1992 cit in Gonçalves, Silva & Coutinho, 2009).

De acordo com o estudo, 91,9% dos professores afirmaram que ao ministrar as aulas o ruído é efectivamente um problema que interfere no seu desempenho profissional, tendo 94,6% dos professores afirmado que deste modo sentem necessidade de aumentar o seu tom de voz para que haja inteligibilidade de fala na sala de aula. Os professores citam sintomas como desgaste vocal (51,4%), dores de garganta (83,8%), voz rouca (81,1%), dores de cabeça (48,6%) e stress (83,8%) como decorrentes do desgaste físico provocado pelo ruído em sala de aula. Diante deste fato, conclui-se que o ruído é o grande causador de desgaste e fadiga vocal dos professores, além de contribuir para a queda de produtividade dos profissionais bem como do rendimento dos alunos.

Nessa pesquisa foi possível concluir que em 97,30% das salas de aula avaliadas os níveis de ruído encontravam-se acima dos limites padrão aceitáveis exigidos pelas entidades competentes.

Torna-se necessário tomar as devidas precauções, as quais passam por manter hábitos de uma boa saúde vocal, eliminar, se possível, as fontes de ruído desnecessárias e, também, procurar promover um melhor isolamento sonoro nas salas de aulas de modo a evitar que as ondas sonoras sejam reflectidas, condicionando a compreensão do que é dito e exigindo que o professor fale mais alto.

Brevemente colocarei algumas sugestões para preservar a saúde vocal.


Informação acedida em:
Gonçalves, V.; Silva, L. & Coutinho, A. (2009). Ruído como agente comprometedor da inteligibilidade de fala dos professores. Produção, v.19, n.3, pp. 466-447
Imagem acedida em:
http://www.brasilescola.com/upload/e/voz%20de%20professor.jpg

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